Apesar da ficção científica sempre ter sido um ambiente fértil para imaginar futuros e criar novos universos, as narrativas LGBTQ+ quase sempre estiveram em um lugar marginalizado. Até os anos 1970, representações pejorativas e preconceituosas de personagens queer eram praticamente via de regra e, só depois dos movimentos sociais de libertação de gênero e sexualidade, é que muitos autores da comunidade puderam ter o seu devido reconhecimento e narrativas mais diversas e inclusivas começaram a aparecer. Separamos alguns títulos e autores importantes que nos ajudam a contar essa história:
A história verdadeira, do escritor grego Luciano (120-185 d.C), é considerado o precedente clássico da literatura fantástica e da ficção científica e, para alguns, um dos primeiros livros com temáticas LGBTQ+ da história.
An Anglo-American Alliance, de Gregory Casparian, foi o primeiro romance de ficção especulativa americano a retratar explicitamente um relacionamento lésbico romântico.
1906
PULP
Na era pulp (décadas de 1920-30) a sexualidade, quando abordada, refletia a sociedade da época, e personagens LGBTQ+ eram frequentemente vilanizados ou pouco representados.
O conto The World Well Lost, de Theodore Sturgeon, apresenta aliens homossexuais fugitivos e o amor não correspondido de um humano por um deles.
1953
1960
Sturgeon também escreveu Vênus Plus X, em que uma sociedade de um único gênero é representada e pela primeira vez a homofobia do protagonista é retratada de forma negativa.
No final da década de 1960, a ficção científica e a fantasia começaram a refletir as alterações do movimento dos direitos civis e o surgimento de uma contracultura. Surge então o movimento experimental "New Wave", que deu um pouco mais liberdade para temas LGBTQ+.
1965
Em The Final Programme, de Michael Moorcock, personagens envolvem-se em relacionamentos do mesmo sexo em diversas ocasiões e são retratados sem qualquer moralismo.
Samuel R. Delany foi um dos primeiros autores abertamente LGBTQ+ da ficção científica e apresenta temas e personagens diversos em grande parte de sua obra. Ele se envolveu com o movimento nos anos 1970, onde sua escrita se tornou ainda mais experimental.
1969
Apesar da própria Ursula K. Le Guin ter se arrependido de não ter explorado o tema com um olhar mais aprofundado e menos heteronormativo, em A mão esquerda da escuridão a autora fala de questões de gênero importantes para a comunidade.
Foi uma influente autora e crítica de ficção científica e explorou temas feministas e lésbicos durante toda sua carreira. Sua escrita provocadora e perspicaz deixou uma marca duradoura no gênero e a tornou uma das vozes mais fortes da comunidade LGBTQ+ no sci-fi.
1976
James Tiptree Jr. era uma mulher bissexual que escrevia anonimamente com o pseudônimo de um homem. Seu trabalho central explorava o impulso sexual e em Houston, Houston, Do You Read? escreve sobre uma sociedade de mulheres após a extinção dos homens por uma doença.
Elizabeth Lynn, autora lésbica, destaca-se por protagonistas LGBTQ+ em suas obras, como em Chronicles of Tornor.
1980
"Lésbicas e gays tornaram-se menos estranhos no mundo da ficção científica no últimos tempos (...) apesar disto, continuamos aliens dentro deste mundo da mesma maneira que nossos personagens são aliens dentro destas histórias."
– Wendy Pearson
A primeira antologia de ficção científica LGBTQ+ é publicada. Kindred Spirits, organizada por Jeffrey M. Elliot é focada em narrativas gays e lésbicas.
1984
1989
É publicado The Child Garden, de Geoff Ryman, que escreveu vários romances e contos premiados que apresentam personagens LGBTQ+ em destaque.
Uranian Worlds é o primeiro guia autorizado para a literatura de ficção científica LGBTQ+.
1990
1991
O Otherwise Award é criado com o nome de James Tiptree Jr. Award. O prêmio literário homenageia obras de ficção especulativa que exploram questões de gênero.
Yoon Ha Lee, é um autor trans inovador de ficção científica e fantasia, destaca-se pela fusão de matemática e cultura asiática em suas obras. Aborda temas como identidade e poder e é um dos nomes expoentes das últimas décadas no sci-fi.
Outra figura importante na ficção especulativa contemporânea é a jamaicana-canadense Nalo Hopkinson, que foi a primeira mulher negra queer a ser nomeada Grand Master pelo Science Fiction and Fantasy Writers of America.
O romance 2312, de Kim Stanley Robinson, retrata um mundo de gêneros fluídos e foi vencedor do Nebula.
2012
2014
É publicado A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil, de Becky Chambers, que também é uma das vozes atuais LGBTQ+ dentro da ficção científica.
A série Sense8, criada por Lilly e Lana Wachowski, vira febre mundial e apresenta uma trama de ficção científica com muitos personagens e narrativas LGBTQ+.
2015
2017
Rivers Solomon publica seu livro de estréia, A herança dos fantasmas, que apresenta personagens não-binários em uma narrativa potente.
É lançado o disco Dirty Computer, de Janelle Monáe, que oferece um ponto de vista negro, feminista e queer do futuro.
2018
2021
O autor Waldson Souza lança O homem que não transbordava, uma das revelações do sci-fi LGBTQ+ brasileiro.